quinta-feira, 19 de abril de 2007

O ouvido plural contra a lógica do chicote...

“O problema de nós próprios é olharmos para a nossa história com os olhos dos outros. A visão que temos de nós próprios não foi por nós construída, mas pedimos emprestado aos outros a lógica que levou à nossa própria exclusão e à mistificação do nosso mundo como periférico. Temos que aprender a pensar com uma racionalidade que seja nossa. O nosso olhar foi educado por um espelho que deforma: amarra-nos o pulso, aprisiona-nos o olhar. Onde deveríamos ver dinâmicas, descobrimos essências, onde deveríamos ver processos notamos imobilidade. Não tiramos proveito das mestiçagens que historicamente fomos produzindo e contentamo-nos com a procura estéril de identidades "puras". Em nome da "ciência" tendemos a esquecer outras sabedorias e transformamos essa ciência importada numa acomodada certificação daquilo que se pensa ser a "realidade". Pior do que a ignorância é essa presunção "progressista" e "civilizada" de saber (que antes vinha pelo modelo marxista e agora chega na nova cartilha desenvolvimentista do banco mundial). O que se globalizou foi essa ignorância disfarçada de arrogância. Não é o rosto mas a máscara que se veicula como nosso retrato de "subdesenvolvidos", medidos por uma máscara que nos vem de fora. A questão é, portanto, como criar um outro conhecimento: plural, relacional, contextual e - portanto - sem hegemonia ou dominação.”Adaptado de Mia Couto, “Pensatempos” pág. 155-157

1 comentário:

Anónimo disse...

:)

deixaste-me curiosa...
da novidades...
bjinhos
manu