quinta-feira, 19 de abril de 2007

O ouvido plural contra a lógica do chicote...

“O problema de nós próprios é olharmos para a nossa história com os olhos dos outros. A visão que temos de nós próprios não foi por nós construída, mas pedimos emprestado aos outros a lógica que levou à nossa própria exclusão e à mistificação do nosso mundo como periférico. Temos que aprender a pensar com uma racionalidade que seja nossa. O nosso olhar foi educado por um espelho que deforma: amarra-nos o pulso, aprisiona-nos o olhar. Onde deveríamos ver dinâmicas, descobrimos essências, onde deveríamos ver processos notamos imobilidade. Não tiramos proveito das mestiçagens que historicamente fomos produzindo e contentamo-nos com a procura estéril de identidades "puras". Em nome da "ciência" tendemos a esquecer outras sabedorias e transformamos essa ciência importada numa acomodada certificação daquilo que se pensa ser a "realidade". Pior do que a ignorância é essa presunção "progressista" e "civilizada" de saber (que antes vinha pelo modelo marxista e agora chega na nova cartilha desenvolvimentista do banco mundial). O que se globalizou foi essa ignorância disfarçada de arrogância. Não é o rosto mas a máscara que se veicula como nosso retrato de "subdesenvolvidos", medidos por uma máscara que nos vem de fora. A questão é, portanto, como criar um outro conhecimento: plural, relacional, contextual e - portanto - sem hegemonia ou dominação.”Adaptado de Mia Couto, “Pensatempos” pág. 155-157

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Ai João... qual delas serei eu?! :)

"Num supermercado às 18:00h só há mulheres. As mais bonitas encontram-se nos transportes públicos às 08:00h da manhã. As mais pintadas estão nas discotecas às 03:30h ou domingo à tarde nos shoppings. As mais sexy são todas demasiado jovens. As melhores do mundo são beijadas ao acordar, ainda às escuras. Ora, já se sabe, sem luz, não dá." João Lucas 2007

Não sei se me deixei "apanhar" pelo encanto das palavras, ou....

«Ora viajar é outra coisa: sempre que a lógica de mercado – que é uma metamorfose do racionalismo – nos “mostra” uma coisa, é porque “esconde” outra. Viajar é, por isso, procurar precisamente o que o turista não vê, isto é, aquilo que a lógica da mercadoria “esconde” evidentemente para poder “mostrar” aquilo que mostra e que corresponde a uma confirmação das expectativas de “autenticidade” turística. Viajar é, portanto, procurar aquilo que a lógica comercial esconde .
É evidente, no entanto, que o viajante “usa” o mercado: tem que usar uma vez que este está em todo o lado, penetra todas as esferas de acordo com o modelo “imaterial” da economia que funciona pela compra electrónica de informação. Mas ao usar o mercado – e diferentemente do turista – o viajante subverte-o, usando-o para o contornar, tentando descobrir a humanidade que existe por trás de várias formas de troca paga. Em certo sentido, o turista é aquele que procura viajar sem muitas surpresas, isto é, não se autoriza transformar-se em função da descoberta (por mais que isso aconteça sempre, pode não ser reconhecido como tal). Ele quer encontrar nos locais exactamente a confirmação do que se encontra nas brochuras e nos guias. O viajante é o que busca o imprevisto, a transformação, o escondido, em suma, a destruição interior do estereótipo.»Francisco Nazareth, 2007

terça-feira, 17 de abril de 2007

Da visão poética de miscigenação tantas vezes escrita pelo meu amigo Mário Lúcio, um cabo-verdiano romântico de voz sedutora, que canta e encanta em troca do “veneno capital”, passei a ver, “de olhos bem fechados”, a vivência desigual das sombras que se arrastam pelos becos – proclamados cidade (definição de cidade poderá ser discutida): zona caracterizada pela edificação contínua e a existência de equipamentos sociais destinados às funções urbanas básicas, como habitação, trabalho, recreação e circulação (…),a grande fonte da qualidade de vida, fonte de prosperidade e oportunidades. Nesses becos andam sombras deslocadas (voluntariamente ou não) do seu habitat que procuram, ainda que em vão, uma forma de sobrevivência. A enxada ou catana (instrumentos que de alguma forma contribuíam para a “produção” de bens alimentares) ficaram para trás. Surgiram “monstros de ferro” que os obrigaram a todo um processo de aprendizagem, muitas vezes falhado ou ineficiente aos olhos dos “grandes mestres”. A fértil terra vermelha passou a ter a cor cinza escura, onde tudo pode cair que nada nascerá, para além da injustiça, desigualdade e humilhação dos mais “fracos”, que são aqueles que ainda não aprenderam a utilizar os talheres, aqueles que andam com sapatos rotos, que não falam bem a língua oficial, aqueles a quem foi roubada a sua identidade… (serão estes os indígenas?)
Onde está a construção de uma identidade através da miscigenação (eu só vejo mistura nas noites quentes, aquecidas pelo álcool e alimentadas pelo poder fálico do dinheiro)?? Eu só vejo: Imposição, Importação (de línguas, costumes, regras, sabores, cores…). Onde esta a troca e a partilha? Dane-se a “Aldeia global”… perdoem-me os “urbanoides” e defensores do “igual”.
17 de Abril de 2007 (bom.. 2007 só para alguns)

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Num paradigma social de sustentabilidade ao qual me encontro formatada, a “imagem de pés descalços” torna-se num fruto exótico a experimentar, uma imagem a fotografar, uma lembrança a guardar. Mas se de repente os pés passarem a ser europeus???

Pois bem deixam de ser um fruto exótico, para passarem a ser uns pés gigantes de alguém que conheço….E os sorrisos??? Uns surgem numa miscelânea de vergonha disfarçada, submissão e resignação, ou talvez não…a minha formatação não me permite compreender a felicidade no meio do nada… mas ela pode muito bem existir.
Outros surgem num contexto de abundância e alienação…Onde ouvir a voz doce da raposa instiga a contemplação da lua enquanto as hormonas fervem.

E por último surgem aqueles sorrisos prematuros, de quem provavelmente não sabe de onde vem nem para onde vai. Desconhece os braços que o protegem por escassos segundos (o tempo da fotografia que perpetua a ideia do exótico), e desconhece por completo o mundo das desigualdades que o vai engolir.


Ponta do Ouro, 9 Abril 2007

terça-feira, 3 de abril de 2007

Alguns rostos que navegam pelo mesmo oceano... o Índico



Um olhar para a objectiva...




Um olhar gélido....

Em contemplação....

O que pensaría este rosto...???


quererá isto dizer bom dia...?
um momento de descontracção.....

lá vai ele....até onde a estrada o levar