terça-feira, 17 de abril de 2007

Da visão poética de miscigenação tantas vezes escrita pelo meu amigo Mário Lúcio, um cabo-verdiano romântico de voz sedutora, que canta e encanta em troca do “veneno capital”, passei a ver, “de olhos bem fechados”, a vivência desigual das sombras que se arrastam pelos becos – proclamados cidade (definição de cidade poderá ser discutida): zona caracterizada pela edificação contínua e a existência de equipamentos sociais destinados às funções urbanas básicas, como habitação, trabalho, recreação e circulação (…),a grande fonte da qualidade de vida, fonte de prosperidade e oportunidades. Nesses becos andam sombras deslocadas (voluntariamente ou não) do seu habitat que procuram, ainda que em vão, uma forma de sobrevivência. A enxada ou catana (instrumentos que de alguma forma contribuíam para a “produção” de bens alimentares) ficaram para trás. Surgiram “monstros de ferro” que os obrigaram a todo um processo de aprendizagem, muitas vezes falhado ou ineficiente aos olhos dos “grandes mestres”. A fértil terra vermelha passou a ter a cor cinza escura, onde tudo pode cair que nada nascerá, para além da injustiça, desigualdade e humilhação dos mais “fracos”, que são aqueles que ainda não aprenderam a utilizar os talheres, aqueles que andam com sapatos rotos, que não falam bem a língua oficial, aqueles a quem foi roubada a sua identidade… (serão estes os indígenas?)
Onde está a construção de uma identidade através da miscigenação (eu só vejo mistura nas noites quentes, aquecidas pelo álcool e alimentadas pelo poder fálico do dinheiro)?? Eu só vejo: Imposição, Importação (de línguas, costumes, regras, sabores, cores…). Onde esta a troca e a partilha? Dane-se a “Aldeia global”… perdoem-me os “urbanoides” e defensores do “igual”.
17 de Abril de 2007 (bom.. 2007 só para alguns)

3 comentários:

Nuno Brazão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Brazão disse...

Os teus posts são um pouco revoltados ou serão só impressão minha?... o mundo é mesmo assim... uns têm outros não. Existiram sempre os países ricos e os pobres, os que enganam e os enganados. Será sempre assim e contra isso nada podes fazer.
Quando estás em tua casa (leia-se em Portugal) gostas de ter aquecimento? electricidade, gasolina para te deslocares? Dá graças para que África, não seja "igual" pois se assim fosse à muito que terias voltado à idade da pedra e cozinharias com lenha! A igualdade não existe! Os ideais marxistas-leninistas à muito que deixaram de ter algum sentido (como facilmente podes ver pelo número de países que ainda abraçam essa corrente de pensamento) até a China... O que fazes por essa tua igualdade por ti reclamada "amiga"? Para que se torne um facto!

observador disse...

Meu caro: Não defendo o “igual”. Defendo o direito à identidade, à liberdade de escolha e acima de tudo o direito às diferenças culturais. Com a grande desculpa (leia-se: miserável, execrável desculpa) da necessidade de desenvolvimento das comunidades em “vias de desenvolvimento” e com o real objectivo de alimentar a máquina capitalista: matam-se pessoas, destroem-se modos de vida e condenam-se almas à miséria (miséria: é a perda total de referências do seu modo de vida; almas que vagueiam em estradas de pó sem saber o que comer (poético não é? - mas poderemos fazer um levantamento do número de países nos quais isto acontece…)…Bom tudo isto para responder à tua grande questão: que fazes por essa tua igualdade por ti reclamada "amiga"? Pela igualdade não faço nada. Pela diferença: eu, pelo menos, penso, discuto, debato e não aceito passivamente a ideia de que “sempre foi, sempre será”…Meu “amigo” a liberdade de opinião é censurada em alguns países, mas a “liberdade de pensamento” ninguém ta tira…